Depois de roubar a cena em Barbie (2023), Ryan Gosling retorna para estrelar um novo filme que tinha tudo para ser apenas mais um genérico de ação e comédia esquecível mas que no fim prova sua sagacidade e peculiaridade fora de série.
A princípio, O Dublê é um enorme omelete que une todos os ingredientes perfeitos para criar a fórmula do sucesso: explosões, lutas, carros capotando, uso de câmera lenta, tanquinhos sarados, alienígenas, espionagem, beijos quentes, unicórnios e muita comédia nonsense.
E o longa não tem medo de abraçar a galhofa em alguns momentos, mas o que o torna único é usar estes elementos ao seu favor de uma forma que agregue a história, e não apenas para entreter.
O erro que os grandes blockbusters de hoje como Transformers e Velozes & Furiosos cometem é justamente apelar para o uso indevido de piadas e ação para compensar a falta de um roteiro conciso ou um plot chamativo.
Enquanto isso, O Dublê parece entender onde seus antecessores erraram e acerta ao abraçar a excentricidade fantástica que só um filme de cinema consegue dar.
Na trama, conhecemos Colt Seavers (Ryan Gosling), um dublê famoso de Hollywood que acaba sofrendo um acidente quase fatal e precisa se aposentar prematuramente até ser convocado para investigar o desaparecimento do astro Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson).
A partir daí ele deve embarcar em uma aventura insana que vai levá-lo a desmascarar uma rede de mentiras que pode comprometer tudo aquilo que ele mais ama.
O Dublê aposta na comédia absurda e espalhafatosa para contar sua história, e é justamente aí onde Ryan Gosling (que já se provou ser um deus quando o assunto é humor autodepreciativo) brilha completamente.
Não tem como negar, o cara é um excelente ator de comédia, e sua química com Emily Blunt só ajuda a deixar tudo ainda melhor. Acredito que eles quiseram criar uma dupla perfeita como foi ele com Margot Robbie em Barbie, mas parece que ao lado de Blunt, os dois encontraram a dinâmica ideal que não teria sido nada demais se fosse com outros atores.
Eles estão de rédeas soltas aqui, e se zombam, brincam, sensualizam e tiram sarro um do outro como dois amigos que se conhecem há séculos. Só pela interação fenomenal entre esses loirinhos já vale assistir o filme.
Mas o ponto destaque que faz O Dublê ser genial é dar luz a um assunto muito polêmico em Hollywood que é o total descaso com a equipe de dublês nos sets de filmagem. São eles que arriscam suas vidas para entregarem as cenas mais importantes de um longa, e no final, nem ao menos são reconhecidos por isso.
Existe até mesmo uma piada envolvendo o Oscar, quando perguntam ao Colt se ele já recebeu uma estatueta e ele diz que não. É uma situação complicada, e que precisa ser mudada na Academia e na indústria cinematográfica.
E você entende como a equipe se preocupa ao homenagear a rotina difícil dos dublês durante os créditos, quando nos é apresentado uma sequência por trás das cenas, e podemos ver como este é um trabalho complexo e bastante perigoso.
Por fim, meu único ponto negativo em relação ao filme são as partes em que Gosling precisa investigar o paradeiro de Taylor–Johnson (inclusive fraquíssimo aqui), e acaba tendo que se distanciar do restante do grupo principal, que é o coração da trama.
É que é tão fácil você se encantar pela metalinguagem aqui, no caso estamos vendo um filme sendo rodado enquanto a história avança, e é nesses momentos em que Gosling tem que fazer alguma cena de ação maluca ou está tentando paquerar a Blunt, que as coisas ficam realmente interessantes.
O Dublê é um grande filme pipocão mas que não te entrega uma experiência vazia, você vai rir, gritar e se emocionar com o quão loucamente divertido ele pode ser. E acredite quando digo que este aqui merece ser visto na maior tela possível e rodeado pelos melhores amigos para que a experiência fique ainda mais perfeita.
Geek, colecionador de board games e cinéfilo apaixonado pelo mundo da comunicação. Gosta de escrever fanfics nas horas vagas, ler livros de terror e ficção científica, curtindo ao som de Gorillaz. Estiloso, sempre buscando looks inspiradores, gosta de praticar esportes, promover festas e estar rodeado pelos amigos.