Você já se perguntou o motivo dessa franquia existir até hoje?

Onde tudo começou… ou terminou

Baseado no clássico da literatura francesa “La Planète des singes“, de Pierre Boulle, Planeta dos Macacos chegou aos cinemas em 1968.

A premissa parece relativamente simples: Astronautas saem de um estado de hibernação no futuro, e chegam num planeta misterioso e florestal. Nesse desconhecido lugar, eles descobrem que os seres predominantes são primatas falantes de intelecto desenvolvido. Em contrapartida, uma espécie semelhante à humana, bem menos evoluída e não-verbal, é subjugada e escravizada por esses símios opressores que montam cavalos e possuem armas de fogo.

A trama se desenrola conforme o astronauta Taylor (Charlton Heston) entende como a sociedade primata funciona. A chegada dele e seu grupo colocam em xeque as crenças dos macacos, já que, após verem os astronautas se comunicando como eles, alguns primatas cientistas acreditam que sua própria espécie pode ter sido originada dos humanos. Com isso, os macacos estudam os cérebros dos astronautas para comprovar ou não tal teoria. Porém, existem símios que buscam outro caminho para comprovar sua origem. Um deles é Cornelius (Roddy McDowall), um macaco arqueólogo. Ele está disposto a explorar um lugar chamado “Zona Proibida”, que nada mais é, que um vale de símbolos antigos e milenares, mas que pode revelar segredos que o governo primata esconde sobre o passado daquele lugar.

No decorrer do filme, fica cada vez mais claro que aquela sociedade símia é uma releitura da própria humanidade. A incessante busca pelos porquê da própria existência, assim como a ânsia pelas respostas para perguntas que nem ao menos sabemos formular, e a fatídica batalha de “ciência x fé”, fazem parte da essência de uma espécie predominante, seja ela qual for.

Todos esses elementos estão no filme. E nós, no papel de Taylor, somos meros espectadores (ou vítimas) do que esses seres dominantes são capazes de fazer para terem essas respostas. Assim como nós, os primatas de Planeta dos Macacos pouco se importam com o impacto que podem causar em outras vidas, e só querem justificar suas próprias existências.

E para fomentar ainda mais essa discussão, o filme encerra em um final magistral. Nele, Taylor, após finalmente escapar dos macacos, encontra um dos símbolos milenares da Zona Proibida. Então, fica tão chocado quanto o espectador. Trata-se da ponta da Estátua da Liberdade enterrada na areia. E ali, de joelhos e em um desespero descomunal, o astronauta descobre que aquele planeta tão hostil e dominado pelos macacos é a própria Terra no futuro longínquo para o qual ele viajou no início do filme.

Isso nos mostra que o ciclo se repete, ainda que espécies dominantes se alternem no exato mesmo ambiente.

Planeta dos Macacos trouxe ao cinema uma das maiores reviravoltas de todos os tempos. Seu final teve um impacto tão grande, que, por causa dele, o filme mudou de gênero instantaneamente, passando de fantasia para ficção científica, sendo uma das mais originais já vistas.

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O que veio depois…

Planeta dos Macacos teve quatro continuações, ainda nos anos 70. Todas abordam os temas levantados no primeiro filme, porém, dentro de tramas mais concentradas no próprio universo criado. Questões como viagem no tempo e inversão de papéis entre símios e humanos, colocam os macacos na busca de suas origens, até que eles percebem que são seus próprios antepassados, pois, através de um paradoxo em que voltam no tempo, os primatas do futuro são quem criam e estimulam os primeiros símios evoluídos do passado.

Por fim, a obra fechou seu ciclo explorando ao máximo o tema de ficção científica, embora de forma muito complexa para o público geral. No entanto, o carinho pelo primeiro filme é maior por ter uma narrativa muito mais simples e atrativa. Curiosamente, sua conclusão aberta gera muito mais comoção do que as resoluções fechadas trazidas nos filmes seguintes. Isso nos faz pensar: Será que somos mais atraídos pelas perguntas do que pelas respostas?

Ainda há uma versão feita por Tim Burton, em 2001. No entanto, esse filme não segue a cronologia dos anteriores, tratando-se de uma trama isolada e paralela. O destaque para a versão de Tim Burton fica para o trabalho incrível de maquiagem dos macacos. No mais, a trama não aborda nenhuma questão evolutiva, focando em aventura e ação. Além disso, ainda traz um final muito controverso. Houve uma clara tentativa de causar uma reviravolta impactante, assim como o original de 1968, mas o tiro saiu pela culatra e o fim foi tão inaceitável para o público, que resumiu o filme inteiro em um blockbuster esquecível. O erro desse filme foi tentar trazer a obra para o público não amante de ficção científica, mas não houve sucesso porque a história não é só sobre uma aventura, nunca foi.

Outro Planeta dos Macacos?… De novo?

Depois de seis filmes e inúmeras referências, o cinema saturou de Planeta dos Macacos. Entretanto, em 2011, a Fox inesperadamente resolveu trazer a franquia de volta às telas. A verdade é que ninguém pediu por esse filme, a indústria achava que a franquia já estava mais do que desgastada, e a expectativa do público era baixa para qualquer coisa do tema. Porém, em uma jogada arriscada, o estúdio propôs uma nova origem para esse universo, o tornando mais coeso que suas antigas continuações e tão cativante quanto o primeiro filme. Foi aí que nasceu Planeta dos Macacos: A Origem.

Resultado: o filme foi um sucesso.

Aparentemente, nós somos fascinados por ciclos que se repetem, o que valida a mensagem do primeiro filme, de 1968.

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O grande acerto de Planeta dos Macacos: A Origem foi trazer uma história sobre personagem, e não sobre o enredo que já havia sido tão explorado nos outros filmes. Por mais que os eventos externos estejam lá, o conflito interno de Caesar (Andy Serkis) tem muito mais importância na narrativa. Por isso amamos tanto esse personagem, mas também há outro motivo mais intrínseco para o seu sucesso:

Em 1968, a humanidade tinha uma visão otimista sobre si mesma. O fim da Segunda Guerra trouxe uma visão de esperança à nossa espécie. Afinal, nós vencemos o inimigo, mesmo que ele também fosse um ser humano. Em outras palavras, o filme de 1968 coloca um humano no papel central, como o protagonista e herói. Esse era o retrato da época, e ajudou na empatia do público pela trama. Já a releitura de 2011, vem em um período da nossa história em que não temos o mesmo apreço pela humanidade, seja isso justificável ou não. Basta vermos as inúmeras demonstrações de ódio que temos uns pelos outros, deixando claro que há uma certa repulsa à nossa própria espécie. Assim, esse novo filme reforça os nossos tempos atuais, onde um símio, livre da toxidade humana, é colocado como personagem central, e os humanos são seus antagonistas. Como não torcer para ele?

Por fim, visto que a receptividade do filme foi tão positiva, as continuações eram inevitáveis.

Planeta dos Macacos: O Confronto e Planeta dos Macacos: A Guerra, abordam não só os eventos que nos levam cada vez mais ao encontro do filme de 1968, mas também nos presenteiam com uma construção de personagem esplendorosa. A forma como a jornada de Caesar se constrói na trilogia, é uma aula de desenvolvimento de personagem.

A agora, o ciclo se repete, pois ninguém pediu por um quarto filme dessa saga que se iniciou em 2011. O anúncio de Planeta dos Macacos: O Reinado foi uma surpresa. O terceiro filme conclui o arco de uma forma tão significativa, que não havia necessidade de uma continuação, já que ficou subentendido que a sequência direta seria o filme de 1968. No entanto, o sucesso da trilogia foi tanta, que ficamos felizes por saber que haverá um quarto filme.

Ainda que não saibamos sua trama, de uma coisa podemos ter certeza: o ciclo se fechará novamente, ou se iniciará outro.

By T. Benedicto

Desde criança, é amante de grandes narrativas, tanto literárias quanto cinematográficas. Por isso, usou de todas as suas referências para criar sua própria ficção. Lançou o primeiro livro de sua saga de distopia em 2023, e busca consolidar sua carreira como escritor.

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