Uma história de auto descoberta

Blue Jean estreia nesta quinta-feira (27) e traz consigo diversas nuances que fazem com que o público compartilhe os sentimentos da protagonista do início ao fim. A atuação de Rosy McEwen é envolvente e sincera e leva cada espectador a se colocar em seu lugar nos debates internos quanto a sua forma de enxergar a si mesma.

O título do longa se refere à Jean (Rosy McEwen), a protagonista da história, uma professora de educação física divorciada e bastante reservada. Ela é uma mulher lésbica que não se assume como tal publicamente. O ano exato em que a trama se passa é 1988. A homofobia estava presente no discurso do governo conservador encabeçado pela primeira ministra Margaret Tchather, na mídia e também em parte da sociedade e nas pessoas. Uma legislação mais restritiva em relação aos homossexuais estava prestes a ser aprovada: a cláusula 28, que proibia a “promoção” e aceitabilidade da homossexualidade nas escolas.

Neste contexto, Jean vive sempre tensa, preocupada e com medo. A protagonista encontra-se em um relacionamento com Viv, uma lésbica assumida que encara a sociedade e seus julgamentos, envolvida nos debates do momento.  É nítida a diferença de visões de mundo de cada uma das partes dessa relação. Viv, sua companheira, tem uma visão mais crítica da situação política que a Grã-Bretanha vive, enquanto Jean se nega a ver a realidade como ela é.

Quase como uma trilha sonora da vida de Jean, acompanhamos diariamente o programa de rádio informando sobre os atritos vindos da cláusula 28. De um lado há a Câmara dos Lordes, composta por um parlamento majoritariamente masculino e extremamente conservador que se posiciona completamente contra a convivência e aceitação dos homossexuais em sua sociedade, do outro lado há os homossexuais e apoiadores da causa lutando por direitos iguais.

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No meio desse debate entre as duas, somos apresentados aos colegas de trabalho e familiares que se dividem entre essas opiniões. Na família de Jean é possível entender que sua irmã e cunhado sabem sobre a sua sexualidade, mas não há nenhum apoio direto à Jean enquanto que no seu trabalho, o preconceito é escancarado, tanto entre alunos quanto professores. Jean enxerga como se não houvesse lugar para ela ser quem ela deseja ser sem sofrer represálias ou ataques.

Jean gosta de seu trabalho e sempre se deu bem com as suas alunas. Seus colegas de trabalho vivem a convidando para irem ao bar beber com eles, mas ela sempre consegue se esquivar com alguma desculpa. A professora se isola, se esconde deles propositalmente. Seu mundo começa a desmoronar quando Jean encontra sua nova aluna Lois no bar homossexual que costuma frequentar com sua namorada e amigas.

A personagem de Jean se enxerga em Lois e não quer a mesma vida para a adolescente. Este embate é um retrato do choque geracional da época. Na realidade, nem mesmo Jean parece saber ao certo o que realmente quer para si. O filme acaba por ser uma história de auto-descoberta e aceitação para sua protagonista. Ela precisa descobrir certas verdades por conta própria.

Blue Jean” é um ótimo drama muito bem conduzido por Georgia Oakley, que faz sua estreia em uma produção para o cinema. Ela e a atriz Rosy McEwen foram os destaques deste trabalho que chega aos cinemas brasileiros no Festival Filmelier no Cinema de 2023. O filme também é um testemunho histórico que nos faz refletir sobre o período do governo de Tchatcher, sobre homofobia, sobre aceitação e de como a luta contra a discriminação é universal e atemporal.

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By Sunsiaray Endy

Olá, meu nome é Sun (sim, é Sun mesmo), tenho 24 anos e sou formada em técnico de Design Gráfico e licenciatura e bacharelado em História. Meus maiores hobbies incluem assistir diversos filmes (e consequentemente, viver com a aba de notas do IMDB em aberto), assistir a mesma série inúmeras vezes, jogar vídeo game e jogos de tabuleiro, desenhar e parar donos distraídos passeando com os seus bichinhos na rua para fazer carinho. Estou aqui para escrever sobre assuntos que eu me interesso muito com a intenção de informar e entreter cada um de vocês.

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