Guerra Civil: Neutralidade existe?

Não é usual, mas Guerra Civil parece ter tido a resposta perfeita para a neutralidade manufaturada que o cinema blockbuster americano sempre buscou.

O trabalho de um fotógrafo de conflitos é ser neutro. É estar no meio da ação sem interferir, sem fazer parte da ação. Ele precisa ser uma sombra em meio a confusão e ao que ninguém gostaria de ver. Ele está ali para mostrar ao mundo o que é o mundo cão.

Resumo de uma nação partida

Dirigido por Alex Garland (A Praia, Extermínio 1 e 2, Sunshine: Alerta Solar, Dread, Ex Machina, Aniquilação e Men) Guerra Civil tem um enredo bem simples. Quando a maior potência do mundo está ruindo, um grupo de jornalista em diferentes estágios de sua vida profissional, busca retratar esse momento.

A obra, tem cerca de 1h50 minutos de duração e é composta, majoritariamente, de um roadmovie. Com seus personagens; Lee Smith, Joel, Sammy e a jovem Jessie, passando por situações que os fazem mudar, seja amadurecendo ou aprendendo com seus traumas passados.

A trama trás uma nação rachada por, pelo menos, duas facções que querem o poder. O antigo governo, que deseja mante-lo, e os separatistas, Texanos e Californianos, que são apoiados pelo estado da Flórida.

O quarteto, que se forma quase por acaso, parte em uma viagem em busca de registrar os últimos momentos da guerra. Mesmo que, alguns achem que isso não fará com que ela termine.

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Durante a viagem, o grupo se depara com diferentes cenários e personagens, mostrando a você, que está assistindo, como os soldados e os civis vivem suas vidas de formas distintas, mas, muitas vezes, se mesclando para que a sensação disruptiva não seja tão presente.

O ponto alto da tensão se traduz numa representação do imaginário coletivo do “americano racista”, no seu sentido mais amplo. Enquanto o final do filme entrega uma catarse de tudo o que era prometido até aquele momento. Ainda que, não entregue respostas claras.

É, sem dúvidas, um final de tirar o fôlego e o cumprimento do objetivo inicial do grupo de jornalistas, em um movimento de mudança de perspectiva de uma promessa feita durante a metade do filme. Ninguém termina igual quando a nação acaba.

Três pessoas vestindo coletes de a prova de balas identificando-os como membros da impressa, dentro de um salão paredes brancas a frente de um corredor com tapete vermelho.
Protagonistas de Guerra Civil em ação (Foto: Divulgação/ A24)

Guerra Civil

Guerra Civil é um filme inteligente. Portanto, sabe tratar de preocupações cada vez mais presentes no coração da sociedade contemporânea sendo traduzida em uma única palavra: polarização.

Apesar de em nenhum momento você encontrar uma explicação para o motivo da situação chegar até aquele ponto – pegamos a parcela final de um conflito que parece já acontecer há algum tempo, fica claro que em algum devido a divergências dois lados romperam completamente sua relação.

Cada personagem tem uma função dentro de um ideia de ‘profissional’. São aspectos de um. Adrenalizado, ingênuo, traumatizado e sábio. Assim sendo, com a morte da sabedoria, a adrenalina é podada, o trauma volta, e a ingenuidade gera imprudência, pela falta de condução de uma voz mais experiente.

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Portanto, Guerra Civil é um filme bem claro sobre a neutralidade do jornalista que está ali para mostrar o fato, não participar dele, ainda que mostre, na verdade, o drama desse veículo, que é o jornalista, nesse leve e trás da realidade para o mundo.

Contudo, propositalmente, ou não (mas provavelmente), a neutralidade da foto, que capta e congela o tempo do click para sempre, é usada como uma desculpa perfeita para o filme ficar em cima do muro.

Todavia, um muro alto, de onde você pode ver muita coisa, e está livre para registrar.

Foto destaque: Guerra Civil é o mais novo lançamento da A24 (Reprodução: Divulgação/ A24)

By Rodrigo Carvalho

Redator, bacharel em Comunicação, menos leitor, mais escritor. Assistir filmes e escrever sobre eles é um hobby com gostinho de paixão.

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