Uma Análise da Subjetividade e Técnica na Arte Cinematográfica

            Hoje em dia muito é discutido sobre formalismo no audiovisual  e como a qualidade de uma obra tem que estar associada intrinsecamente ligada a forma como é executado. Nisso se criam padrões em que os fatores mais importantes para se avaliar um filme viram os aspectos técnicos dele e se ele atinge ou não os critérios para ser considerado um filme de valor. Porém essa corrente de pensamento estruturalista tende a ignorar aspectos mais subjetivo ou até permitir que a obra seja analisada de forma mais profunda do que apenas uma classificação entre 0 a 10.

            Para começar é preciso primeiro se entender as origens do formalismo no cinema e as peculiaridades e problemáticas  dessa visão, existe uma vertente cinematográfica chamada cinema estrutural onde os cineastas dessa vertente estavam muito mais interessados no formalismo do cinema recusando qualquer tipo de subjetividade ou parte poética em seus filmes, a técnica pela técnica. Nessa visão os filmes são idealizados tendo em mente elementos mais matemáticos, métricos e  inflexíveis com o mínimo de subjetividade focando no cinema enquanto cinema. Esse movimento possui muita semelhança com uma corrente literária do Parnasianismo, que também visava que a forma e técnica do poema é o verdadeiro valor dele acima de qualquer subjetividade.

            Apesar dessa vertente do cinema não ser a visão vigente atualmente e muitos filmes subverterem esses conceitos de adequação técnica ainda existe uma grande influência dessa valorização formal do cinema tanto no meio crítico quanto para com a visão do público. Tal tendência faz com que o verdadeiro valor de um filme esteja numa nota que ele possa receber se atender determinados critérios, um formalismo em que o objetivo de todo filme seja unicamente atender esses critérios. As raízes desse tipo de pensamento estão muito ligadas a uma lógica capitalista de tornar filmes produtos a serem consumidos e enquanto produtos eles precisam atingir certos padrões para serem aceitos e vendidos para as massas.

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            Porém existe a subjetividade inerente a arte seja ela qual for e é errado desvaloriza-la em prol de uma visão consumista de cinema enquanto produto. Quando se debate de subjetividade não é apenas sobre fatores externos que influenciam a experiência do telespectador com a obra ou os elementos subjetivos dela própria como história, temática ou subtexto, mas sim o conjunto disso. Um filme é uma experiência artística mista entre o individual e o coletivo, existe o impacto coletivo que uma obra pode trazer e ao mesmo tempo existe a interpretação e absorção única e exclusiva do individuo para com a obra. Um filme por si só não possui qualidade alguma assim como qualquer obra de arte, pois não existe nada prático a se realizar com um filme.

            Mas é a partir dessa falta de valor prático que se entra o valor real da arte, o poder que ela tem ao ser consumida que é o fator humano da experiência e reflexão sobre a obra seja ela qual for. Se o que determinasse objetivamente a qualidade de uma obra fosse a técnica então não haveria razão para existência da crítica ou debate já que bastaria apenas verificar se a obra atende os requisitos técnicos ou não e se determinar seu valor. Logo senso crítico seria algo redundante afinal não haveria o que se debater em uma obra, numa comparação mais simples seria como a compra de um objeto ou o objeto atende a função que deveria ou ele possui defeitos não existiria meio termo na avaliação.

            É a partir dessa reflexão que se entende o paradoxo no formalismo cinematográfico e o erro na visão de “ é um filme ruim, mas eu gosto”  partindo do pressuposto  que a classificação de “ruim” seja baseada em aspectos técnicos.Logo é a partir disso que se debate a definição de o que seria senso crítico ou o papel da crítica ao se analisar um filme, algo que ao mesmo tempo possui traços estruturalistas e traços subjetivos por mais contraditório que isso possa ser.

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            O senso crítico não deveria ser definir o valor de uma obra unicamente em padrões técnicos, mas também não é a subjetividade única da experiência ao se assistir um filme. Não se renega a técnica, mas se quebra a ideia de valor nela. Ou seja o papel do crítico não é definir a qualidade de uma obra com base em quais aspectos foram atendidos adequadamente, mas sim a partir dos elementos do filme tanto subjetivos quanto técnicos extrair a reflexão de sua própria experiência e o entender individualmente os motivos pelos quais o filme tocou ele da maneira que for, nisso a discussão não se torna mais de qual é a qualidade de uma obra, mas por que ela atingi pessoas de determinadas maneiras e pode atingir outras de maneiras diferentes, a obra não está presa a sua forma ou a experiência, mas sim podendo ter impactos únicos para cada pessoa, isso é senso crítico

By Don

Crítico, Nerd, Gamer que sabe que a verdade está lá fora. Viciado em séries, cinema e cultura pop em geral. Diretor de dois curtas metragens mas que hoje prefere atuar nos bastidores. Sonha em um dia visitar Hogwarts e o Condado e deseja que a força esteja sempre com você.

2 thoughts on “Existe Gostar de Filme Ruim?”

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