Estranho Caminho, novo filme do diretor com elementos autobiográficos anda emocionando o público

Nesta sexta feira (26), tivemos a oportunidade de entrevistar o diretor e roteirista Guto Parente e o protagonista do filme Lucas Limeira, durante uma sessão de Pré-Estreia de Estranho Caminho, que aconteceu na Cinemateca Brasileira no Mubi Fest. Em Estranho Caminho, um jovem cineasta visita sua cidade natal para participar de um festival e é surpreendido pelo rápido avanço da pandemia de Covid-19. O contexto o obriga a encontrar seu pai, com quem não fala há mais de dez anos. Todavia, depois do primeiro encontro, coisas estranhas começam a acontecer.

Lucas, poderia descrever um pouco o processo para interpretar um personagem tão relacionável em que sua história se passa durante a pandemia na qual aconteceu as filmagens?

Lucas: O processo foi em conjunto, as coisas ocorreram muito próximo uma das outras. Recebi o convite para o papel em janeiro e, no mesmo mês, já estávamos ensaiando. Para a criação desse personagem conversei bastante com o Guto e conheci a história dele, muito também partiu de vivências minhas, o meu corpo já apresenta uma conexão com a pandemia, meu próprio pai e Fortaleza, e tudo isso está presente em David. Quando Carlos Francisco chegou aos ensaios, já estávamos próximos das gravações e o processo mudou, precisávamos conhecer o tempo de cada um. Foram vários exercícios, um deles, era de um espelho. Repetíamos os movimentos um do outro, até que chegou um momento em que não sabíamos mais quem estava conduzindo. Antes de todas as cenas tínhamos um tempo para ensaiar, repetimos o mesmo exercício para aquecer. Em outro, a gente trocou de papel, foi muito bom me ver no corpo de outra pessoa, Carlos interpretou todos os meus trejeitos.

Aproveitando o gancho, pelo trailer, percebi que você e o Carlos Francisco estão em sintonia. Há algum aprendizado ou momento especial entre vocês que possa compartilhar?

Lucas: Existe um milhão rs. Sou muito babão dele. Carlos é um ator incrível, sua voz é uma das coisas mais fantásticas. Tenho admiração pela pessoa generosa, carinhosa e humilde que ele é, dá vontade de colocar em um potinho. Ele montou uma tenda de reiki dentro do set, na qual atendia todo mundo da equipe, mesmo quando ele não tinha cena para gravar estava presente. A gente saía dessa tenda com outra energia, era muita força que ele emulava. Com ele, conversei sobre tudo, até me ensinou como plantar e qual é a melhor fase da lua para mudar as plantas de local. Parece que não tem nada a ver com o filme, mas estávamos ali criando muita intimidade.

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Guto, a relação entre pai e filho é muito importante para seu filme, e parece que teve êxito. Como foi conseguir essa química entre os dois atores?

Guto: Foi fácil, são dois grandes atores que o único mérito que tenho como diretor foi ter escolhido eles. Mais um fator é que tivemos tempo para trabalhar, Estranho Caminho parte de questões autobiográficas com meu pai, um filme que visa refletir sobre a nossa relação. Assim que observei os dois juntos no primeiro ensaio, já tinha certeza que seria realizado um ótimo trabalho em conjunto. O trabalho passa muito por colocar as pessoas certas e todos se abraçarem juntos.

Como foi o processo de lidar com o gênero da comédia e sugestões de terror dentro de uma estética brasileira e, sobre tudo cearense?

Guto: Acredito que a comédia está presente, tem seus momentos, é algo que me interessa, mas a tônica principal em questão de gênero seria um drama familiar fantástico. Surgem elementos de diversos outros gêneros, como a comédia do absurdo, o terror e a atmosfera da pandemia, que era um pesadelo recorrente. Mas isso tudo acontece de forma natural.

Lucas: A gente conversava muito sobre a excêntrica personalidade do pai do Guto, percebi como essa comédia entrou no roteiro.

Guto: O Carlão realizou um estudo intenso sobre meu pai. Chegou até ficar hospedado em um lugar que meu pai ficou antes de morrer. Em relação ao cearense, acredito que seja mais um filme de lá que se destaca e tem repercussão. O cinema cearense vem de anos produzindo muita coisa boas. A gente tendo acesso e recurso tudo flui.

Lucas, qual foi o sentimento que sentiu ao ler o roteiro e se deparar com seu personagem?

Lucas: Quando Guto me convidou, me senti acolhido. Ele falou que me conheceu do projeto anterior que fiz, Cabeça de Nego, e que surgiu a vontade de trabalhar junto. Ao me deparar com o roteiro, me deixou com medo e muito entusiasmado. É um personagem complexo que está presente em todas as cenas, um desafio do qual gostaria de participar. Experimentei muita coisa nesse set, incluindo a corrida de quatro quarteirões atrás de um carro em uma cena. Descobri muita coisa através desse personagem.

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Guto, você costuma refletir a realidade humana, incluindo o mundo, em seus filmes. O quanto a representatividade é relevante no cinema brasileiro, fora e dentro das câmeras?

Guto: Pergunta difícil. Pra mim, é um lugar de construção, convivência e trabalho em conjunto. Algo natural. Em nenhum momento da criação da história, penso em representatividade, mas é claro, ao montar a equipe, pensamos e desejamos uma mais plural possível, diversa e majoritariamente feminina. O filme reflete um fluxo já natural da minha perspectiva, mas no que diz respeito ao cinema nacional, podemos discutir a relevância das políticas públicas de ações afirmativas. É uma discussão complexa que requer a quebra desses modelos.

Você se consolidou como um dos principais nomes do cinema brasileiro atual. Você tem alguma dica para aqueles que desejam ingressar no mercado? 

Guto: Eita. É tão difícil dar dica, a responsabilidade é imensa rs. É crucial ter uma compressão do que você realmente acredita. Para fazer e continuar fazendo é uma atitude de fé. São muitas coisas ali dizendo que aquilo não é para você. Estou prestes a completar 20 anos fazendo cinema, e recebi muitos “não” de festivais. Precisa saber lidar com a frustração. Entender o que te move, não é necessário saber a resposta, mas é preciso sentir vibrando dentro de você. Muita disposição e muito trabalho, eu não sei o que é férias, mas se você é apaixonado tudo vale a pena.

Para finalizar, um filme brasileiro que vocês assistiram recentemente e podem indicar?

Guto: Antes de responder, vou complementar com mais uma dica. Para aqueles que estão começando a fazer cinema, é importante assistir muito filme, principalmente cinema nacional. A poente faz cinema brasileiro e temos que se relacionar com nossa própria produção. Apesar de termos uma tendência a assistir aos novos lançamentos da Netflix, é necessário encontrar um lugar de consumo de cinema nacional que é onde a gente aprende. Recomendo a Filha do Palhaço, do Pedro Diógenes, e Ladrões de Cinema filme de 77 que usei de inspiração para meu próximo filme.

Lucas: Vou afirmar Filha do Palhaço e Greice, dois filmes bem legais que dão outra perspectiva sobre a cidade de Fortaleza.

Entrevista feita por Luca Rossini.

Estranho caminho estreia dia 1º de agosto nos cinemas brasileiros.

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