Crítica da 2° temporada de Emily em Paris - Parte 2

Essa segunda parte parece um sanduíche velho requentado que foi esquecido na geladeira

Nem o ator de Gabriel (Lucas Bravo) aguenta mais o marasmo do seu personagem. Meses atrás circularam rumores de que o ator pensa em abandonar o barco, já que seu contrato finalizou na quarta temporada. Lucas compartilha algo com o público: o desânimo com o desenrolar de Emily nas Capitais da Europa.

Quando nem o absurdo salva uma produção:

A série, embora rodeada por polêmicas e momentos pendendo para a xenofobia, conseguia ser muito divertida justamente pelos absurdos. Considero que ela compartilha com Sex and The City e The Office algo importante: a graça vem do exagero e, em certo nível, da vergonha alheia. Dependendo do jeito que se encara, a estapafúrdia dá a volta e vira um grande entretenimento.

Na quarta temporada, porém, muitas mudanças e reviravoltas tiraram esse brilho, desde a primeira parte. Mas na segunda metade, a coisa degringolou de um jeito que possivelmente não há retorno. Irônico, se você pensar que a temporada vinha justamente com a proposta de atrair novamente o interesse do público. Interesse que foi se perdendo ao longo de três anos cada vez mais cansativos de acompanhar.

Desde o início da segunda parte, um sentimento muito grande surgiu e aumentou cada vez mais: todos os acontecimentos eram requentados e tudo parecia repetido. Até que, ao final, você entende que supostamente era a intenção. Ao invés de termos algum desfecho satisfatório ao fato de que Genevieve vinha sabotando Emily no trabalho e na vida pessoal, tentando roubar dela um cara que ela nem conhece, você percebe que o roteiro abre caminho para que Genevieve realmente fique com o lugar de Emily, já que agora a protagonista vai para Roma.

O roteiro que tem a faca e o queijo na mão e joga os dois para o alto:

Por que diabos a oponente de Emily é fã de moda e vai para Paris para isso, se a intenção era criar uma nova oponente para Emily, após tirarem Camille do caminho? Faria muito mais sentido vermos outra profissional de Marketing competindo com Emily justamente por ela ter tudo o que essa personagem quer para si. Por que alguém sabotaria o trabalho de um colega por uma vaga que ela nem almeja de verdade?

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E por falar em escolhas de roteiro, que motivo Sylvie tinha para escolher Emily como representante em Roma? Ela não fala nem francês, que dirá italiano. Seu único real motivo para ficar lá seria Marcello, mas isso só provaria que Emily se aproximou dele por interesses profissionais. E o roteiro ainda fez toda uma ginástica com a mãe de Marcello exigindo que Emily estivesse no projeto como condição para assinar com a Grateau, mas isso entra em contradição com a própria condição de Emily em não participar do projeto para que Marcello não tivesse dúvidas sobre suas intenções. A pergunta que fica é sempre a mesma: qual é o sentido?

Por que repetir as cenas finais exatamente como o início de Emily em Paris? Qual é o sentido de uma série se chamar Emily em Paris e a protagonista, depois de “evoluir” a duras penas ao longo de três temporadas e meia, mudar de cidade e precisarmos acompanhar sua jornada, igual a anterior, fazendo-a retornar ao exato ponto do início?

Quer dizer, a Emily já quase não tem evolução de personagem. E o pouco progresso que ela fez está sendo jogado no lixo. Ela não aprendeu italiano durante o relacionamento com Marcello e foi promovida. Emily não sabe nada sobre a cultura italiana (ao contrário dos seus colegas). Simplesmente está lá, do mesmo jeito que estava lá na sua ida para Paris, já que a pessoa qualificada para ir calhou de engravidar.

A minha verdadeira birra não é nem mais com o fato de ela ganhar coisas incríveis de graça, porque convenhamos, isso acontece na vida real, também. Então a produção não seria sobre uma ótima protagonista cheia de valores e merecimento, seria apenas a narrativa dessa pessoa sem qualificação adequada que é premiada, e todos conhecemos alguém assim.

Não seria tão ruim, se acompanhássemos ela se tornando melhor cada vez mais e fazendo diferente, mesmo que a série quisesse seguir nesse rumo de Roma. Mas não. Enfrentamos 4 temporadas com acontecimentos sofríveis em troca de algumas migalhas de momentos divertidos e química entre casais, só para sermos obrigados a viver tudo de novo na quinta temporada.

Até o presidente da França se pronunciou sobre. Você pode argumentar, como o prefeito de Roma fez, que existem coisas mais importantes para um governante se preocupar do que os rumos de uma série de tv. Mas acho que o fato exemplifica muito bem o nível a que chegou a insatisfação.

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Considerações finais:

A quarta temporada termina com “vilões” sem motivações reais (Genevieve, afinal, é muito burra de querer sabotar Emily, afinal ela ainda não sabe de nada. Ainda não conquistou seu lugar na agência de verdade, e se dependesse de Sylvie, se limitaria a servir cafézinho e atender ligação). Temos também um romancezinho fofo mas morno entre Marcello e Emily, requentando a mesma narrativa do Alfie. E, como sempre, a sombra de Gabriel prestes a tomar as rédeas de sua vida, tal qual um “Olha a cobra! É mentira“.

Uma coisa muito legal no desenvolvimento de personagens que eu gostaria de pontuar é a lealdade que os colegas de trabalho desenvolveram pela Emily. Especialmente o Julien, que detestava fortemente a estadunidense no início mas que sacou qual era a da Genevieve na hora, e impediu que ela ficasse usando a sala de Emily enquanto a colega estava na Itália.

Por fim, temos uma faísca de tomada de decisão no final da temporada de Gabriel, quando parou de permitir que Genevieve fizesse o que queria com ele. Um padrão para Gabriel, que nunca toma uma atitude de verdade e se deixa levar por todos. Assim, Lucas tem uma última chance de recuperar a vivacidade de seu personagem. Ou melhor, o roteiro tem. Caso contrário, pode ser o fim definitivo do cozinheiro gato na série.

A temporada foi difícil de engolir, e passei um bom tempo travada no episódio 7, quando Genevieve pega o lugar de Camille em ser a vilãzinha de Malhação. Como em Manual de Assassinato para Boas Garotas, posso dizer que não teria assistido se não fosse para escrever sobre. E isso vindo de uma grande fã, mesmo não sendo uma série muito boa.

Nota: 2.0

By Keith Ives

Uma enciclopédia humana de comédias românticas. Tenho gosto musical duvidoso e gosto de fingir que estou em um talk show enquanto lavo a louça. Quando não estou assistindo a filmes, estou fazendo miniaturas deles.

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