Vidas Secas(1938) é um dos livros mais aclamados da literatura brasileira, escrito por Graciliano Ramos o romance pertencente a segunda geração modernista serve como um livro de denúncia sobre os problemas que assolavam as pessoas do nordeste por causa do descaso com que essas pessoas eram retratadas. Pois em 1963 o cinema brasilero começava a entrar em um novo movimento, o Cinema Novo que tinha como foco justamente trazer temas relacionados a problemas e vivências das pessoas do brasil em suas realidade, foi nesse movimento que nomes como Glauber Rocha, Luiz Carlos Barreto e Nelson Pereira Dos Santos se destacaram e nesse período Vidas Secas ganhava sua adaptação.
25 anos após sua publicação os problemas e as histórias vividas por Fabiano e sua família ainda impactaram e refletiam a jornada de muitas pessoas enfrentando a seca, miséria e descaso no nordeste,o filme consegue transpor através da imagem muito de como aquela família funcionava e de como eles eram explorados e desumanizados de todas as formas possíveis. A direção de Nelson Pereira Dos Santos é bem fria e crua justamente para que o impacto vá por aquela situação ser não apenas natural para aqueles personagens, mas também a forma de sobrevivência deles
Não atoa um dos primeiros episódios retratados no filme é o de Sinhá Vitoria a esposa de Fabiano que gostaria de uma cama de couro e tiras pois isso na visão dela fariam eles serem “ gente ao invés de bixo” e por sua inteligência ajudou o marido a economizar e percebeu que ele não estava recebendo o que devia. Porém quando Fabiano questiona isso é ameaçado de perder o emprego e então recua para mostrar que está submisso ao patrão e aqui cabe destaque a incrível performance de Átila Iório como Fabiano que consegue passar toda a simplicidade e camadas que o personagem possui na obra original
O ritmo do filme consegue transpor muito bem o impacto que a obra precisa ter a partir de episódios do cotidiano da família que não estão necessariamente ligados, mas que todos mostram diferentes níveis de injustiças sociais sendo realizadas, seja a exploração do patrão, ou o abuso que a autoridade faz com Fabiano quando a família vai para um evento na cidade, a direção nesse momento brilha com a transição do Fabiano na prisão e o festival ocorrendo apenas nos causando mais angústia
O final do filme adapta um dos momentos mais impactantes de toda a literatura brasileira, a morte da cadela Baleia que representava a parte de humanidade que havia na família, a morte da baleia nesse filme pode não gerar a mesma sensação que a forma na literatura, mas o impacto ainda é intenso e a mensagem permanece.
Pois 60 anos após o lançamento no cinema e 85 anos após sua publicação Vidas Secas continua sendo uma obra tanto cinematográfica do Cinema Novo quanto literária da segunda geração modernista que reflete e impacta as pessoas por ser um reflexo muito real ainda de como pessoas em situações de vulnerabilidade no Brasil muitas vezes são abusadas, invisibilizadas e desumanizada por um sistema que se nega dar voz e olhar para elas.
Crítico, Nerd, Gamer que sabe que a verdade está lá fora. Viciado em séries, cinema e cultura pop em geral. Diretor de dois curtas metragens mas que hoje prefere atuar nos bastidores. Sonha em um dia visitar Hogwarts e o Condado e deseja que a força esteja sempre com você.