O estudo atômico de Robert Oppenheimer
Oppenheimer, o mais novo filme de Christopher Nolan é o grande vencedor do Oscar 2024. Com 7 vitórias, o longa se garante como o mais premiado do ano e se consolida como o grande filme da carreira de Christopher Nolan.
Christopher Nolan, um dos diretores mais conhecidos da atualidade. Algumas pessoas afirmam que o diretor é superestimado e possui filmes desnecessariamente complexos, apenas para sustentar o status quo erudito e até mesmo chato de uma bolha cinéfila. Porém penso que não é justo resumir o diretor somente a isso. Nolan tem uma carreira muito bem-sucedida como realizador, filmes de qualidade excepcional e com sucessos absolutos de bilheteria, como The Dark Knight (Batman: O Cavaleiro das Trevas) e Inception (A Origem), por exemplo. Enfim, pode ser que, nem sempre Christopher Nolan atinja o grande público, mas sua qualidade como diretor é inegável.
O físico J. Robert Oppenheimer, trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, resultando no avanço e criação da bomba atômica.
Não irei entrar em méritos quanto ao processo de adaptação feito por Christopher Nolan do livro “Oppenheimer: O triunfo e tragédia do Prometeu americano”, porque ainda não fiz a leitura da obra, mas pretendo, pois é um livro muito conceituado e vencedor de vários prêmios e o tema me atrai bastante. Dito isso, o roteiro adaptado por Nolan é denso e prolixo e confesso, um pouco cansativo em sua introdução.
Oppenheimer leva um tempo para fisgar o espectador, acredito que por tratar de muitos temas de uma vez, diretamente no início, mas após a primeira hora da rodagem, o longa se torna simplesmente excepcional. O filme se veste com uma tensão que dura até o final. Tudo aqui é exacerbado, carregado e profundo. O filme tem uma abordagem não linear, reflexiva e até mesmo filosófica em determinados momentos e trabalha bem com isso ao retratar o envolvimento de Oppenheimer com o comunismo, toda a política no período de guerra e, principalmente, sobre a como bomba atômica marca o fim da 2ª Guerra Mundial e transaciona para o período de Guerra Fria. Esses fatos levam a tragédia e ao impasse no psicológico do personagem interpretado por Cillian Murphy.
O uso do primeiríssimo plano para ressaltar os dilemas morais enfrentados pelo protagonista é muito interessante e nos mostra que o J. Robert Oppenheimer é um ser humano, falho e que carrega um peso muito grande pelos seus atos. E definitivamente, tudo isso passa pela atuação de Cillian Murphy, um dos pilares para o andamento de Oppenheimer. Cillian é um ator talentosíssimo que merecia, e muito um palco como esse para brilhar e realiza uma interpretação magistral, em minha opinião. As pequenas expressões do personagem, o olhar extremamente preocupado e as questões morais são executadas por ele de forma brilhante.
Fiquei bastante admirado com a qualidade de interpretação, do ator Matt Damon como General Groves. O longa sobe de nível com suas aparições, pois ele representa uma urgência que chega a tirar o fôlego do espectador. O ator Robert Downey Jr. interpreta um personagem fundamental para a história e está muito bem no filme. Ele sustenta boa parte do arco final e a insensibilidade que ele consegue expressar durante suas cenas é de muita qualidade. Emily Blunt, que interpreta a esposa de J. Robert Oppenheimer, por sua vez, está bem no papel e brilha muito em algumas partes do filme, principalmente no terceiro ato, mas com certeza poderia ter sido melhor desenvolvida. Assim como, Florence Pugh que faz uma personagem muito importante na vida do protagonista, mas que recebe pouca atenção. Acredito que parte dessa falta de desenvolvimento de personagens coadjuvantes que pesa negativamente a obra, se dá, é claro, pelo interesse pessoal do diretor na figura de Robert Oppenheimer, seus atos e na temática política que ele abrange durante todo o tempo de rodagem.
É impossível não mencionar os “jumpscares sonoros” durante o filme, eles são muito bem-posicionados durante a rodagem, criam uma atmosfera tensa e urgente. O som é excepcional e juntamente com a montage consegue expressar muito bem a mente e os vislumbres do protagonista, seus pensamentos e impasses. Em Oppenheimer a experiência visual, juntamente com o trabalho de som, são impressionantes e necessárias para toda a grandeza que o longa transmite. Em contrapartida, temos o silêncio, que é utilizado de forma magistral e compõe uma cena brilhante do filme.
Contudo, temos a trilha sonora de Ludwig Göransson que conduz de forma bastante poética o longa. Expressa muita qualidade quando precisa dominar e estar presente em uma cena. É um trabalho realmente muito bom. A utilização do preto e branco, é bem aproveitada e ajuda o espectador a não se perder na cronologia e nos acontecimentos que envolvem os personagens e suas relações.
O filme busca explorar o contraditório, portanto, trabalha bem o fato de que uma bomba irá trazer a paz, como evidenciado em alguns diálogos. O físico Oppenheimer, pai da bomba atômica, tinha plena consciência de seu feito e do peso de sua criação. Ele também compreendia que o mundo nunca mais seria o mesmo. Embora o longa constantemente mencione que, após a bomba atômica, não haveria mais guerras. A realidade, portanto, foi marcada por mortes e pelo medo eterno em qualquer cenário de guerra.
Definitivamente, Oppenheimer é brilhante em toda sua parte técnica e trabalha bem com o roteiro até certo ponto. Possui uma introdução um pouco exaustiva, mas compensa com uma abordagem interessante de fatos históricos e uma profunda discussão ética e filosófica. Um bom filme para fãs do Nolan e uma grande cinebiografia para os fãs do gênero.
NOTA: 8/10
Olá, sou Luiz Henrique, faço comentários sobre cinema e compartilho aqui minhas experiências com filmes que vi.