E se a superfície do nosso planeta se tornasse inabitável?
Acredito que todos nós já pensamos nessa possibilidade, mas será que conseguiríamos, além de sobreviver, também viver nessa condição?
Baseada na trilogia distópica de Hugh Howey, O Silo retrata como seria possível estabelecer sociedades, classes sociais, economias, políticas e até mesmo relacionamentos amorosos nesse cenário. Entretanto, tudo isso acontece embaixo da terra.
Logo no primeiro episódio, o espectador é apresentado ao Silo, uma torre subterrânea de 144 andares onde vivem aproximadamente 10.000 pessoas. Nesse local, existem diversas regras estabelecidas, com hierarquias e reponsabilidades.
Apesar do ambiente instigante e rico, existe um elemento que nos chama atenção mais do que qualquer outro: uma janela que exibe uma pequena parte do devastado mundo exterior, para que a população interna nunca se esqueça do porquê é seguro permanecer no Silo. E o mais curioso, é que qualquer habitante pode pedir para sair, quando quiser. Contudo, fica sob sua inteira responsabilidade as consequências do que enfrentará em terra firme. Até então, dentro dos 140 anos que o Silo existe, nenhum habitante sobreviveu por mais de cinco minutos do lado de fora, mesmo com um traje de proteção. Tudo que os governantes do Silo pedem, é que essa pessoa faça a limpeza da janela pelo lado de fora, assim o exterior continua visível para quem está dentro.
Na história, acompanhamos diversos personagens e suas funções para manter o controle e convivência dessa sociedade. Porém, a trama é centrada na personagem Juliette Nichols (Rebecca Ferguson), uma engenheira “casca-grossa” que trabalha no gerador de energia do Silo, mas que recebe uma oportunidade inesperada para ser xerife. Como protagonista da série, o desenvolvimento dela é o ponto alto da trama. Por ser uma personagem pouco sociável, é visível como ela se sente desconfortável em sua nova função. Isso enriquece a personagem e a impede de ser unilateral ou “preparada para tudo”. Rebecca Ferguson, que também é produtora executiva da série, interpreta e domina a personagem central com maestria.
Além dela, outros dois destaques ficam para Bernard Holland (Tim Robins), o diretor de TI do Silo, responsável por manter o controle de monitoramento da grande torre, e para Martha Walker (Harriet Walter), tutora e principal aliada da protagonista. Ambos os personagens se destacam quando aparecem em tela, graças às suas interpretações primorosas.
Quanto à ambientação, é notável o alto investimento e carinho da produção em retratar um ambiente tão incomum como o Silo. As características padronizadas de residências, construções e instalações tornam crível a existência da torre. A cada ambiente que aparece, ficamos atentos a todos os detalhes para saber como ele foi pensado para funcionar na estrutura. O clima da série é mérito da retratação desses cenários tão únicos. Por mais complexos que sejam, todos esses elementos são apresentados conforme a narrativa exige. Isso torna a experiência do espectador fluída e viciante, pois o desenrolar da trama só aumenta a nossa vontade de conhecer cada vez mais sobre o Silo.
Ao longo de 10 episódios, a trama se desenrola sem pressa, mas de forma viciante. No melhor estilo “nem tudo é o que parece”, cada episódio nos motiva a querer saber o que vem pela frente. É importante ressaltar que o arco aberto nessa primeira temporada tem um fechamento, mesmo que a série ainda tenha continuação. E devo dizer que esse fechamento deixará qualquer espectador de boca aberta. É praticamente impossível prever o final!
O único ponto baixo da série é o excesso de personagens secundários que não movem a trama como um todo. Entendo que a intenção foi trazer diferentes contextos para explorar o Silo, mas a trama principal independe dos conflitos de alguns personagens, fazendo com que eles sejam esquecíveis. No entanto, isso não fere a ótima experiência que a trama proporciona.
A série foi lançada em 2023 pela Apple TV+ e foi renovada para a próxima temporada, com expectativa de lançamento entre o fim de 2024 e começo de 2025.
Nota = 9/10
Desde criança, é amante de grandes narrativas, tanto literárias quanto cinematográficas. Por isso, usou de todas as suas referências para criar sua própria ficção. Lançou o primeiro livro de sua saga de distopia em 2023, e busca consolidar sua carreira como escritor.