“Felicidade só é real quando compartilhada”

Essa é a incrível reflexão que Into the Wild (Na Natureza Selvagem) nos traz de forma bastante explícita.

Já adianto que esse é um daqueles filmes atemporais. Mais que isso, é uma obra que, dependendo do seu momento de vida, pode trazer diferentes visões.

Dirigido por Sean Penn, Into the Wild é baseado no livro de mesmo nome, e que conta a história real de Christopher Johnson McCandless (Emile Hirsch), um jovem de 22 anos que, ao terminar a faculdade, resolve doar todas as suas economias e, sem avisar ninguém, parte numa jornada solitária para viver na natureza.

Logo de início, somos apresentados ao protagonista, que já está há dois anos morando num ônibus abandonado, na região do Alasca. Assim, o filme alterna suas reflexões com flashbacks das experiências que o levaram até lá. Dessa forma, a trama traz os passos de Christopher com a narração de sua irmã, Carine McCandless (Jena Malone), em um texto absurdamente incrível de tão imersivo.

O primeiro destaque fica para aos diversos cenários pelos quais Christopher passa durante sua jornada. Todos são lindos e dignos de pinturas. Sean Penn foi perfeito nesse ponto, pois conseguiu capturar elementos da natureza que fossem importantes para a trama, fazendo com que o protagonista sempre interagisse com eles. Isso mostra ao espectador como a natureza pode recompensar e ao mesmo tempo hostilizar. Essa dualidade torna os cenários do filme tão importantes quanto os personagens que Christopher encontra.

Sobre as pessoas que cruzam o caminho do protagonista, o filmes traz uma abordagem inversa ao que estamos acostumados. Normalmente, personagens secundários servem para conduzir a história daquele que é o principal. Porém, Into the Wild ousa em mostrar que Christopher é quem acrescenta e modifica a vida daqueles que encontra. Tanto que, a cada despedida, são esses personagens quem sofrem com a partida de Chris, e não ele, que permanece irredutível em seu objetivo.

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Durante os dois anos em que vive fora de casa, o protagonista conhece diferentes pessoas e culturas, passando por hippies, trabalhadores rurais e turistas. Todos tem papéis cruciais no que o filme quer comunicar.

Também é importante destacar os pais de Chris, Billie McCandless (Marcia Gay Harden) e Walt McCandless (William Hurt). Estes, apesar de pouco tempo de tela, conseguem transmitir a agonia do sumiço do filho com tanta intensidade, que chegamos a nos irritar com Chris, por tê-los deixado sem notícias. Vale ressaltar que seus pais são interpretados por artistas renomados, e não por menos, merecem todo o crédito por suas atuações impecáveis.

Ainda sobre os personagens que Chris conhece ao longo da trama, deixo o meu destaque para Ron Franz (Hal Holbrook), um senhor de idade solitário que perdeu sua família tragicamente há muito tempo, e vê na figura de Chris, quase que um neto. É emocionante a forma como a relação dos dois se desenvolve. Assim como fica claro o quanto Christopher cativa todos ao seu redor, mas mesmo assim, não deixa que isso o desvie de seu propósito em ficar sozinho na natureza.

Além de tudo isso, é impossível não enaltecer o trabalho que Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, fez na trilha sonora desse filme.

Ao ser convidado por Sean Penn, Eddie relata que não pensou duas vezes em participar do projeto. Todo o álbum foi composto especialmente para o filme, e dá o tom e clima perfeitos para a jornada de Chris.

Quanto à mensagem, Into the Wild trata questões internas com muita sutileza e carinho. Com temas muito atuais, como não-pertencimento e a busca incessante por si mesmo, a trama é um primor em questões sociológicas e até filosóficas. Confesso que assisti esse filme mais de uma vez e em momentos diferentes da minha vida, mas sempre enxergo uma lição diferente a cada vez que o vejo.

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A prova disso é um ponto que absorvi na última vez em que assisti ao filme: Quando Chris fala para as pessoas sobre sua escolha de viver na natureza, todos ficam espantados de início, mas não demora para que, cada um deles, o ajude de alguma forma. Isso me faz pensar que todos nós temos essa vontade de ousar, de fazer o diferente. E é muito bom quando vemos alguém tentar dar esse passo que vai além e move a pessoa para fora da natureza tão intrínseca em nossa essência, e já tão modificada pela história da humanidade. Por isso, a maior demonstração de que queríamos ter a mesma coragem, é a de ajudar e aplaudir essas pessoas corajosas como podemos. Assim, provamos que é possível chegar lá, mesmo que através do outro, e quem sabe um dia, sermos nós a darmos esse passo.

Todos os quesitos que abordei na crítica, combinados, tornam o filme uma experiência única. É uma obra que fica na nossa cabeça por muito tempo após terminarmos de assisti-la, e isso é resultado de uma história bem contada.

Christopher é um ser humano livre e sem amarras. Sua história é inspiradora. Ao mesmo tempo, nos faz pensar no que temos e não damos valor, mas também nos mostra que, talvez, o preço da liberdade seja a solidão.

Into the Wild (Na Natureza Selvagem) está disponível nos catálogos da Apple TV+ e Amazon Prime.

NOTA 10/10

By T. Benedicto

Desde criança, é amante de grandes narrativas, tanto literárias quanto cinematográficas. Por isso, usou de todas as suas referências para criar sua própria ficção. Lançou o primeiro livro de sua saga de distopia em 2023, e busca consolidar sua carreira como escritor.

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