Um dos melhores filmes do ano.

Are You There God? It’s Me, Margaret (Crescendo Juntas), está finalmente disponível no Brasil, no catálogo da HBO Max. Dirigido e escrito por Kelly Fremon Craig, o filme adapta o livro homônimo escrito por Judy Blume lançado na década de 1970.

A espera e rigidez da autora original com a adaptação de sua obra foi totalmente recompensada. Judy Blume, inicialmente nunca pensou em uma versão de seu livro para o cinema, e apenas foi convencida após Kelly Fremon Craig ser considerada para direção. Afinal, a cineasta provou seu talento e sensibilidade para filmes com a temática de “coming-of-age”, amadurecimento e juventude, com o ótimo The Edge of Seventeen (Quase 18 – no Brasil).

Margaret, de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo sobre a vida, a amizade e a adolescência. Ela conta com a mãe, Bárbara, que oferece apoio amoroso, e com a avó, Sylvia, que está tentando encontrar a felicidade na próxima fase de sua vida. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca.

Já escrevi em algumas outras críticas sobre o cenário de distribuição de filmes no Brasil e o quanto ela está defasada. Assim, o descaso com alguns longas é visível. Está sendo cada vez mais comum ver ótimos filmes tendo um circuito limitadíssimo nos cinemas, ou às vezes chegando diretamente para as plataformas de streaming. Mas na minha visão o maior problema é o intervalo de tempo, a lentidão e o atraso para com o lançamento e promoção dos filmes. Isso, infelizmente ocorreu com Are You There God? It’s Me, Margaret. A demora para um filme como esse, que causou uma ótima repercussão nos EUA, chegar para o público brasileiro, é bastante triste.

Uma adaptação brilhante

Dito isso, é hora de falar das inúmeras qualidades dessa brilhante obra de 2023. Assim, posso dizer de antemão que este filme explora muito bem uma série de temas. Família, amadurecimento e religião são abordados de maneira natural e singela, resultando em um longa tão sensível, reconfortante e, de certa maneira, até mesmo contemplativo. Visto que, as dúvidas, interesses e vontades da protagonista são transmitidas ao espectador de uma forma muito bonita, o que é percebido nas interações entre Margaret e sua família e amigos.

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Dessa forma, acredito que esses relacionamentos tão naturais e bem estruturados, passam diretamente pela qualidade do elenco, que está maravilhoso na obra. Rachel McAdams está na melhor atuação de sua carreira. Eu gostei bastante da atriz aqui, ela faz o papel de uma mãe que está enfrentando mudanças na vida, se aventurando em coisas novas e lidando com uma filha de 11 anos. Seu trabalho, definitivamente, tem um papel de mediação fundamental para o desenvolvimento de Margaret. Dito isso, é notável a qualidade de atuação de Abby Ryder Fortson, que interpreta a Margaret, e que sustenta muito bem o peso da narrativa. Destaco também é claro, a atriz Kathy Bates, que faz a avó de Margaret e tem um papel de suma importância no desenvolvimento da personagem. Em geral, o trabalho de direção e direção de elenco aqui é primoroso, tudo está bem equilibrado.

É possível dizer que, Are You There God? It’s Me, Margaret subverte o conceito de uma história comum, apenas sobre amadurecimento e todo esse rito de passagem. Existe aqui, uma trama completa e que traz certa profundidade para vários temas como descobertas, mudanças e estabelece uma visão e um posicionamento dos personagens durante todo o longa.

Ótima realização de Kelly Fremon Craig

A direção de Kelly Fremon Craig é bastante original, sensível e traz uma aproximação muito grande com os personagens. Isso dá ao espectador um senso de importância e de contemplação a uma história tão emocionante. Acredito que a montagem do longa, juntamente com os recortes utilizados pela diretora, dita um ritmo extremamente agradável, gerando um clima natural entre os personagens e visando dar um peso no processo de descoberta de Margaret, principalmente no tópico religião. Contudo, a forma com que Margaret se comunica com o Deus que ela acredita, falando sobre seus sentimentos e desejos dá um dinamismo e gera situações engraçadas.

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O filme se passa nos anos 70 e não tem a menor relutância em incorporar realmente essa época. A direção de arte, os cenários, a fotografia, tudo é muito cativante. A ambientação dá um aparato muito importante para toda a discussão do filme. A relação entre Margaret e sua avó por exemplo, consegue conciliar e interligar diferentes gerações que estão constantemente na busca por respostas, autoconhecimento e de certo modo, lidando com mudanças na vida. É claro, tudo isso passa principalmente pela discussão em torno da religião, do amor e proximidade que liga essas duas personagens.

O Hans Zimmer é responsável pela trilha sonora do longa que, embora simples, remete algo sensível, curioso e emocionante que com certeza é fundamental para a qualidade do filme como um todo. Um trabalho que enriquece a obra, com certeza. Além disso, as escolhas musicais, são de muito bom gosto e ressalta aquele sentimento dos anos 70. Uma cena em especial, que toca These Eyes da banda The Guess Who, algo simples, mas que traz uma importância muito grande para a personagem da Rachel McAdams. E claro, com direito a uma leve piada que, sinceramente, não teria como ser mais pontual.

Enfim, apenas é possível falar coisas boas sobre Are You There God? It’s Me Margaret. Um filme que, segundo a própria Judy Blume, escritora do livro é melhor que a obra base. Um texto com discussões muito pertinentes e por fim, um longa riquíssimo em todo o seu conjunto,

Are You There God? It’s Me Margaret é revigorante, encantador, sensível e verdadeiramente divertido. Até agora, o meu filme favorito do ano.

NOTA: 10/10

By Luiz Henrique Alves

Olá, sou Luiz Henrique, faço comentários sobre cinema e compartilho aqui minhas experiências com filmes que vi.

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