O pré-indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional A Semente do Fruto Sagrado entra em cartaz nesta semana no Brasil. O longa consegue superar Ainda Estou Aqui na categoria; vamos descobrir?
Sinopse: Um juiz de instrução luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã, causada pela morte de uma jovem. Quando sua arma desaparece, ele suspeita da esposa e das filhas, impondo medidas severas que desgastam os laços familiares.
O longa do diretor iraniano Mohammad Rasoulof, sobre o qual vou comentar agora, traz um relato perturbador da realidade, tanto próxima quanto distante da que vivemos. O filme explora o conflito entre o governo teocrático e a população do Irã, utilizando uma família como ponto de partida para a história. Rasoulof consegue equilibrar uma narrativa tensa e um perigo constante, enquanto faz uma crítica social sobre o poder nas mãos erradas.
O roteiro de A Semente do Fruto Sagrado é bem escrito, com arcos de personagens bem desenvolvidos. A relação conturbada entre o pai e as filhas é o ponto alto do filme. A maneira como o pai é retratado, como uma figura que aos poucos vai se corrompendo pelo regime do país, reflete diretamente na relação familiar. Um terceiro ato surpreendente, diferente do primeiro, e partes de um segundo ato mais lento fazem a trama ganhar forma e profundidade.
O longa utiliza imagens reais do conflito entre a população iraniana e o governo local, entre 2022 e 2023. Essas partes são as mais chocantes da produção, e o medo e receio por trás das cenas tão impactantes trazem um contraste no filme, mesmo que a família viva uma realidade de “certos luxos”. O perigo está sempre à espreita.
Todo o elenco está muito bom, mas o destaque vai para Setareh Maleki, que interpreta Sana, a filha mais nova da família. A atriz me surpreendeu em vários momentos. No início, ela aparece como uma adolescente comum, mas, aos poucos, seu arco dramático explode na parte final do longa. Ela consegue fazer com que nos importemos profundamente com sua personagem e atitudes.
Rasoulof, mesmo com poucos recursos e com as ameaças à sua vida real durante a produção do filme (que ocorreram após a confirmação do longa no Festival de Cannes, quando ele foi condenado a sete anos de prisão), conseguiu fugir e hoje está radicado na Europa. Ele faz um trabalho tenso e realista, e o filme é um grito de resistência ao atual regime político do país do diretor. O longa faz jus à sua pré-indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, mas não acredito que tenha chances reais de ganhar, especialmente quando comparado a outros candidatos mais fortes.
Com distribuição da Mares Filmes, A Semente do Fruto Sagrado estreia na quinta-feira, dia 9 de janeiro, nos cinemas brasileiros.
NOTA 7/10
Estudante de jornalismo, fã da cultura pop. Adora ir ao cinema e vivenciar a experiência, seja com um bom filme ou ruim (sendo ruim, será detonado com classe ou não). Adora ouvir música e ler livros.