Chappell Roan nunca deixa de surpreender e a noite de ontem foi mais um exemplo disso: no The Tonight Show com Jimmy Fallon, a cantora arrepiou com a música “Good Luck, Babe!”
Roan, juntamente com Sabrina Carpenter, devem ser as estrelas em ascenção mais comentadas do momento.
Com trajetórias parecidas (anos de carreira e diversos trabalhos antes de “estourarem”), as duas têm alcançado mais projeção e o reconhecimento do público geral após passarem anos construindo sua base de fãs gradativamente, sem nenhum hit que viralizasse de uma hora para outra e catapultasse a carreira de uma vez só, como foi o caso de Olivia Rodrigo.
E as duas trazem de volta o que o mundinho pop estava precisando: o frescor de cantoras que não se levam tão à sério e que são, além de incríveis vocalistas, performáticas.
Mas Chappell Roan está sacudindo a indústria como nenhuma outra.
Esbanjando presença de palco, espontaneidade e atenção aos detalhes, cada apresentação da cantora do Missouri é um espetáculo à parte.
Depois de sua apresentação de “Red Wine Supermova” no The Late Show para o Dia dos Namorados (14 de Fevereiro), em que o cenário, seu figurino e até mesmo as integrantes da banda estavam caracterizados com influências do “Burlesque”, a cantora começou a atrair novos fãs.
Logo em seguida, seu Tiny Desk Concert para o NPR Music, em que sua maquiagem e seu figurino faziam clara referência à moda e maquiagem vibrante dos anos 80 (com o rosto pintado de branco e tudo), Chappell chega ao público geral com dois pés na porta e um chapéu de caubói cor-de-rosa.
Foto: Astrida Valigorsky
Fenômeno com ar de nostalgia:
Embora a indústria como um todo esteja se voltando aos anos 80 com inspirações na sonoridade, é impossível comparar a identidade de Chappell com qualquer outro cantor atualmente.
Tanto sua estética quanto sua técnica vocal tem influências claras de cantoras como Cyndi Lauper, que parece nos transportar direto para outra época e se diferencia muito das técnicas mais usadas no mainstream nos últimos anos.
A sensação de nostalgia que Roan traz vai além da maquiagem e dos efeitos synth que ela adiciona às músicas: a cantora usa uma técnica chamada yodel, que é basicamente passar a voz de um registro a outro de forma rápida (como Billie Eilish fez recentemente em “Chihiro”). A técnica era bastante usada nos anos 80, mas hoje nem tanto. Este detalhe já virou uma de suas marcas registradas.
Além disso, a “princesa do meio-oeste” tem um controle de respiração inacreditável em apresentações ao vivo e que pode ser visto na mencionada Red Wine Supernova, em que ela pula e corre no palco enquanto canta a ponte da música, quase sem perder o fôlego e sustentando notas impressionantes.
Outro detalhe importante das influências dela e que a diferenciam no mundo da música é a cultura drag: inclusive seu nome.
Foto: Genesis Webb
Isso porque “Chappell Roan” não é seu nome verdadeiro, mas faz parte de sua identidade como artista e, como na cultura drag, seria como se referir à Gloria Groove como Daniel Garcia.
Chappell é queer e sempre foi muito abraçada pela comunidade, já que ela expressa sua identidade muito claramente em suas letras, como é o caso de “Good Luck, Babe”, entre outras.
A música fala sobre amar uma garota que não aceitou completamente sua sexualidade e como é difícil abrir mão de um amor porque a outra pessoa não te assume como tal.
Glitter, paetês e muita energia: Chappell pertence aos palcos
Com todos esses elementos, se forma a identidade de Chappell Roan: com figurinos e cenários pensados nos mínimos detalhes; tudo muito bem ‘amarrado’ e coerente com a sua própria marca, de um jeito que se pode reconhecê-la facilmente, mesmo cada apresentação sendo uma experiência única.
Ontem, a cantora deu uma entrevista ao programa em que seu figurino era inspirado no Cisne Negro e já sua apresentação musical, toda baseada no Cisne Branco.
E é tudo tão deslumbrante que você não sabe nem para onde olhar. Os vocais são de arrepiar, ela até mesmo supera as notas cantadas na versão de estúdio.
O figurino tem algo de mágico, e lembra um pouco a corte da Rainha Branca do live-action de Alice no País das Maravilhas. Como se já não fosse o bastante, ela também é uma ótima intérprete e passa as emoções com uma facilidade que é difícil desviar o olhar.
E tudo isso está trazendo ótimos resultados: ela acumula 21,6 milhões de ouvintes mensais no Spotify, segundo o Music Metrics Vault, e recentemente participou do Coachella.
A cantora é uma estrela pop como há muito tempo não se via. E não vai parar por aí. A indústria está sedenta por artistas que sejam genuínos, mas que tragam algo de novo.
E se você pode ter a certeza de uma coisa sobre a Chappell, é que nunca verá uma apresentação igual a outra.
Uma enciclopédia humana de comédias românticas. Tenho gosto musical duvidoso e gosto de fingir que estou em um talk show enquanto lavo a louça. Quando não estou assistindo a filmes, estou fazendo miniaturas deles.