Faz todo o sentido que Às Vezes Quero Sumir seja o filme escolhido por Daisy Ridley como seu grande retorno à atuação e primeiro passo para deixar Star Wars para trás. Dirigido por Rachel Lambert, este lento e quieto drama, acompanha a tocante história de uma jovem chamada Fran lidando com sua saúde mental, pensamentos suicidas e introversão com muito carinho e honestidade. É o oposto de como Ascensão Skywalker enxergou Rey, a personagem de Ridley, o blockbuster responsável pelo aparente desinteresse atual da atriz em grandes produções. Ela responde à altura, oferecendo seu trabalho mais repleto de humanidade e nuance até então.
Fran trabalha no porto de uma pequena cidade no noroeste dos EUA. Seu pequeno escritório é composto por meia dúzia de pessoas bem-intencionadas, levemente irritantes e aparentemente satisfeitas com suas vidas comuns e rotineiras. As conversas e bate-papos do ambiente, contudo, beiram o insuportável para Fran (e, consequentemente, para o público). A direção de Lambert — aliada ao competente elenco formado, entre outros por Jeb Berrier, Parvesh Cheena, Megan Stalter, Brittany O’Grady — cria uma atmosfera única nas quais os diálogos e ações desses personagens ganham um ar niilista independente do quão grande seja o sorriso lhes acompanhando. Vemos o mundo pelos olhos de Fran, e talvez a única fuga deste buraco negro de tédio seja, de fato, a morte.
Há, entretanto, vislumbres de uma humanidade mais profunda.
E isso vem através de Carol, a veterana da equipe que está prestes a se aposentar e curtir um cruzeiro pelo caribe com o marido. Mas, como fica claro desde o primeiro minuto pela atuação emocionante e calorosa de Marcia DeBonis, Carol, como Fran, está lidando com mais do que as aparências sugerem.
O verdadeiro acordar de Fran, porém, vem quando Carol deixa o escritório e é substituída pelo engraçadinho, disposto e aparentemente inofensivo Robert, vivido com calorosa vulnerabilidade pelo comediante Dave Merheje. Primeiro através do Slack, e então face-a-face, ele consegue penetrar a armadura de silêncio de Fran, e logo menos os dois estão indo ao cinema e fazendo novas amizades na cidade. As coisas, claro, não são tão fáceis, e quando o roteiro de Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead começa a introduzir conflitos entre os dois.
Introvertida e com muita dificuldade para se abrir, Fran começa a frustrar seu novo paquera, e a falta de informação e conversas profundas começa a se tornar demais para Robert. Limites são testados e até mesmo ultrapassados pela busca de uma compreensão do outro.
Às Vezes Quero Sumir pode ser visto por alguns como um filme parado, sem grandes acontecimentos e com algumas cenas um tanto confusas sobre o que se passa na mente da protagonista. Mas, na realidade, este filme não é para todos, e só é possível compreendê-lo verdadeiramente, quem já esteve no mesmo lugar que Fran.
Felizmente, Ridley e Merheje respondem à altura, e Lambert não perde o alvo de vista. A diretora faz questão de mostrar como as verdadeiras vitórias de Fran não vêm na conquista de um homem que lhe salvará da tristeza, mas como ela aproveita as oportunidades de ser mais social, sair da zona de conforto e mostrar novos lados de si mesma.
Ridley entende Fran não como alguém que não quer ser mais extrovertida, mas sim como alguém com dificuldades para chegar lá. Através de pequenos risos e palavras quietas, Fran desabrocha sem nunca trair sua personalidade de maneiras baratas. Três sequências finais, uma festa na casa de novos amigos, um fim de semana solitário e um reencontro com Carol, servem para ela começar a encontrar sensações e descobertas para colorir o cotidiano cinzento com tons mais interessantes. Ao fim de Às Vezes Quero Sumir, Fran não mudou totalmente seu estilo de fala ou postura, não realizou sonhos enormes, mas não temos dúvida: um grande progresso foi feito.
Às Vezes Quero Sumir faz a sua estreia nos cinemas brasileiros no dia 23 de Maio (Quinta-feira). Assista o trailer abaixo:
Olá, meu nome é Sun (sim, é Sun mesmo), tenho 24 anos e sou formada em técnico de Design Gráfico e licenciatura e bacharelado em História.
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