Como a representatividade impacta o cinema atualmente

  O que é representatividade ? Pra começar é preciso refletir sobre como ao ir assistir um filme no cinema o telespectador passa a ter aquela tela como um reflexo de si mesmo. Uma teoria conhecida como a teoria dos espelhos que diz que o ambiente de cinema acaba se associando com as ideias do psicanalista Jacques Lacan  de que uma criança acaba reconhecendo no outro o ideal de si, o cinema teria a capacidade de reproduzir essa experiência que se sente quando criança.

  Nisso se entra no debate de que se o cinema reflete o público que o está assistindo quem de fato está sendo refletido nas telas ? Esse tipo de discussão consegue se distanciar do campo da arte e entrar para uma esfera social, porém toda arte é um reflexo da sociedade que é produzida então vale a pena entender essa discussão e começar a expandir esse debate.Valendo a pena que seja explorado o olhar de grupos tidos como excluídos ou marginalizados pelo cinema e sua relação com ele.

  Considerando a teoria dos espelhos como base de argumentação temos que representatividade é algo difícil de se definir.Se no cinema todos terão as figuras em tela como reflexo de si próprios, logo numa sociedade ideal toda obra conseguiria criar uma relação de reflexo das pessoas que estão assistindo ou ao menos fazer elas se colocarem na situação apresentada pela narrativa. Porém essa tal sociedade é uma visão utópica e irreal, esse pressuposto exclui completamente a realidade de que existe uma diversidade gigantesca de pessoas consumidoras de arte tanto em questões de gêneros, etnias, econômicas e sociais. Um dos maiores poderes do cinema enquanto arte é poder quebrar essas diferenças e contar história que impactem a todos de diversas formas e maneiras diferentes, mas uma questão importante é que se o público consumidor de cinema é tão diverso as histórias contadas não deveriam refletir esse público e serem por si só diversas ?

      Se analisado de forma totalmente teórica representatividade nem deveria ser um ponto a ser debatido quando se trata de arte e sim a regra, não deveria ser uma questão polemica quando se alterasse a etnia de algum personagem em um filme pois o valor principal deveria estar na atuação, não deveria gerar debate se pessoas da comunidade trans estão interpretando uma personagem como pertencente a essa comunidade ou não sendo que arte sempre foi algo interpretativo. Porém a realidade não se mostra de acordo com a teoria por causa de que antes da arte ser reflexo existe a pessoa que está sendo  refletida,tal pessoa pode carregar em si uma enorme quantidade de fatores internos que façam com que ao olhar para a arte ao ver o que está sendo refletido de volta não se sintam bem consigo mesmo e precise externalizar isso de alguma forma.

Veja Também:  Lilo & Stitch Live-Action ganha previsão de estreia na D23

      Enquanto para outras pessoas é poderoso e importante finalmente começarem a ter histórias que reflitam a realidade deles tendo destaque,  histórias essas que sempre existiram, arte nunca foi algo que pertenceu a apenas um grupo, mas por fatores históricos e sociais por muito tempo a imaginação popular principalmente pelo cinema hollywoodiano foi tomada por um ideal do que seria uma história boa e de qual grupo deveria desempenhar papeis nessas histórias e felizmente isso vem mudando com o tempo, mais e mais grupos conseguem obter destaque e trazer criadores novos para o imaginário popular, isso de forma alguma invalida as histórias contadas antes, mas consegue trazer uma diversidade maior para que a arte esteja sempre se renovando.

      Porém ainda não se tem uma resposta para a questão inicial dessa discussão O que é representatividade ? contar histórias de determinados grupos sociais ? refletir o telespectador nos personagens ? deixar detalhes como o gênero ou sexualidade dos personagens aberto a interpretação ? Poderia haver uma resposta rasa dizendo que tudo isso são exemplos de representatividade, mas na verdade não tudo isso é apenas efeito do que de fato deveria ser valorizado que é o fato desses grupos e pessoas estarem tendo voz na sociedade e não apenas inviabilizados em prol de um ideal que agrada outro grupo.

    Esse fato nos permite começar novas discussões e ver novas problemáticas como é o caso de empresas estararem usando a representatividade visando o lucro ou até se aproveitar dessa comunidade. Algo que vem disso é o termo Queerbait, um temo usado pela comunidade Lgbtqia+ para se referir a histórias que usam de algum personagem pertencente a comunidade lgbtqia+ para se vender, mas que ou a obra trate isso de uma forma desrespeitosa ou os criadores da obra acabem conflitando com ela, exemplos disso podem ser encontrados em franquias famosas como Harry Potter cuja a autora confirmou o personagem Dumbledore como gay e até recentemente no jogo Hogwart Legacy foi incluso uma personagem trans, porém isso se torna contraditório com a autora ativamente influenciando e dando apoio financeiro a entidades e políticas anti pessoas trans no Reino Unido. Porém há vários exemplos de casos de empresas responsáveis por grandes histórias cinematográficas que se vendem como histórias inclusivas, mas as praticas da própria empresa não se mostram de acordo.

Veja Também:  ‘As Tartarugas Ninja: Caos Mutante’ ganha novo trailer

      Tudo isso geraria debates sobre  a separação do autor/criadores de uma obra, porém esse não é o ponto dessa discussão. O ponto é que apenas trazer algum elemento de determinado grupo social não torna qualquer obra representativa ou isenta de críticas. A representatividade e o real poder dela está acima de tudo na diversidade de história, quanto mais diversas formas de arte e múltiplos pontos de vista de mundo forem trazido para o cinema a arte vai mudando em si e não é apenas a sociedade que muda a arte, a arte também por reflexo consegue mudar a socidade, consegue quebrar os paradigmas e preconceitos individuais das pessoas em prol de não só uma, mas de várias boas histórias diferentes, múltiplas e ricas, esse é o poder real que representatividade traz pro cinema a transformação.

By Don

Crítico, Nerd, Gamer que sabe que a verdade está lá fora. Viciado em séries, cinema e cultura pop em geral. Diretor de dois curtas metragens mas que hoje prefere atuar nos bastidores. Sonha em um dia visitar Hogwarts e o Condado e deseja que a força esteja sempre com você.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Wordpress Social Share Plugin powered by Ultimatelysocial