A comédia contemplativa de Joanna Arnow
Joanna Arnow, em seu novo filme “Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou”, apresenta um olhar original sobre a monotonia e a alienação da vida urbana contemporânea. Através da exploração das contradições do sistema ao expor o dia a dia no trabalho da protagonista, Arnow oferece uma narrativa que destaca a indiferença e a infelicidade associadas ao trabalho, refletindo em partes, uma realidade atual.
A protagonista do filme leva uma vida pacata, quase entediante, que é uma representação palpável da rotina desgastante de uma grande cidade. Arnow utiliza esse cenário para compor uma comédia que, embora fraca em suas tentativas de explorar o absurdismo da vida da personagem, ainda consegue transmitir a essência do vazio existencial. A originalidade de Arnow se revela no tratamento do filme, com um tom urbano que permeia toda a rodagem. A diretora se vale de músicas não diegéticas em alguns momentos, intensificando ainda mais o teor do filme e contribuindo para a construção de sua atmosfera melancólica e introspectiva.
A coragem e o compromisso de Arnow, que não apenas dirige, mas também atua no longa, trazem uma autenticidade que impede que o filme se torne cansativo. Sua performance, ao mesmo tempo corajosa e despretensiosa, adiciona camadas à narrativa, transportando o espectador ao próprio universo da história. Apesar de possuir um posicionamento forte em suas discussões, o filme apresenta nuances de comédia que destacam o quanto a vida pode ser entediante. A auto degradação, usada como recurso humorístico, funciona em alguns momentos, mas nem sempre acerta no tom, o que faz com que toda a construção seja desperdiçada.
“Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou”, estreia dia 27 de junho nos cinemas brasileiros.
A crítica do filme, focada no impasse existencial entre o desejo e a ausência de interesse e satisfação emocional da protagonista em relação às outras pessoas, é pungente. No entanto, o desenvolvimento dessa crítica ao desprendimento das imposições e exigências da sociedade carece de maior profundidade. Embora conte com uma temática forte e seja incisivo ao abordar seus temas, o filme se propõe a analisar de forma robusta a vida da protagonista, assumindo uma posição “voyeur” em suas relações não tradicionais. Representa com realismo a vida da personagem, totalmente sem julgamentos, mas acaba sendo desprovido de qualquer importância e senso de que o que está em tela possui realmente um peso além do narrativo.
Em suma, “Aquela Sensação de que o Tempo de Fazer Algo Passou” é uma obra que, apesar de suas falhas, destaca-se pela originalidade e pela capacidade de Arnow de capturar a essência da sociedade moderna. A combinação de uma narrativa intimista com uma crítica pertinente torna o filme, uma reflexão relevante sobre a vida urbana contemporânea e a busca por significado em meio à monotonia do dia a dia.
NOTA: 5/10
Olá, sou Luiz Henrique, faço comentários sobre cinema e compartilho aqui minhas experiências com filmes que vi.