Como você imagina que o mundo será daqui a 500 anos?

Se pensou em robôs e inteligência artificial predominantes, talvez esse filme traga uma boa reflexão para você.

Nesse fim de semana, revisitei Idiocracy (Terra de Idiotas), de 2006. Um filme que, a cada ano que passa, se torna mais profético que os Simpsons.

Logo no início da obra, somos apresentados a uma assustadora e didática explicação do porquê a humanidade se encaminha para o emburrecimento. Digo assustadora, porque não é nem um pouco impossível de realmente acontecer.

Nela, vemos pessoas de alto QI reconsiderarem o ato de procriar, por causa das responsabilidades de colocar um ser humano na Terra. Enquanto isso, aqueles que não possuem mínimas condições de educar alguém, reproduzem em larga escala. Para exemplificar esse ser humano “burro”, o filme traz um homem sem o mínimo de instrução, e que só aumenta sua família exponencialmente. Assim que é apresentado, a legenda nos mostra que o QI desse personagem é de 84.

Fato curioso: Em um estudo mundial recente, foi oficializado que a média de QI do brasileiro é de 83.

Isso é o suficiente para qualquer espectador comprar a premissa do filme.

Ainda no primeiro ato, somos apresentados a dois personagens centrais: Joe (Luke Wilson) e Rita (Maya Rudolph). Não há tanto aprofundamento em ambos os protagonistas, já que a intenção do filme é uma crítica à sociedade, e apenas os usa para passar essa mensagem.

Assim, a trama se desenrola quando Joe e Rita entram em um experimento do exército para hibernação no período de 1 ano. Porém, logo após o início do procedimento, o projeto é descontinuado, e suas cápsulas são abandonadas enquanto os dois voluntários ainda estão em coma induzido.

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Então, eles acordam acidentalmente em 2505, após suas cápsulas caírem de uma montanha monumental de lixo.

A partir desse momento, o filme nos mostra o caminho que a humanidade percorreu em 500 anos. Acúmulo de lixo, cidades decadentes e pessoas totalmente tomadas pela necessidade de entretenimento barato, como repetidas cenas de comédia física. Esses são exemplos claros de como o mundo se perdeu (por enquanto, no filme). Porém, a crítica mais severa que Idiocracy nos mostra, é sobre como grandes corporações tomaram decisões que contribuíram para o colapso mundial. A trama nos mostra uma empresa de isotônico, que enxergava a água como sua maior concorrente. Portanto, a companhia substituiu toda a fonte de água da população pelo seu produto, sejam em mercados, bebedouros, suprimento de animais ou até plantações. Por isso, nesse futuro distópico, a água é conhecida apenas por ser “o que é usado no vaso sanitário”. Obviamente, o mundo inteiro sentiu o impacto dessa medida, na escassez de recursos naturais.

Além disso, empresas de diversos ramos, como a Starbucks, por exemplo, mudaram seu segmento comercial para pornografia e prostituição, pois a economia passou a circular basicamente em torno dessa procura.

O filme também mostra como as pessoas não pensam mais por si mesmas. Tudo está porcamente automatizado, desde serviços básicos, como atendimento, até o policiamento. É como se todos estivessem reféns de uma tecnologia que já ficou defasada há muito tempo. Não há questionamento ou melhoria. Assim, o futuro mostra que o ser humano parou no tempo de suas próprias criações, já que a manutenção das máquinas não acontece por pura incapacidade das pessoas. Esse é um ponto a se refletir. Terceirizar aprendizado pode ser um tanto perigoso.

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Outra crítica muito interessante, é como o filme retrata o que é uma pessoa “burra”. No caso, o ser humano emburrecido não é alguém que se acha incapaz, muito pelo contrário, é um ser com soberba, pronto para apontar os erros dos outros e tripudiar em cima deles. Todas as pessoas desse futuro anseiam em ver o próximo falhar, e assim debocharem e se julgarem mais espertos ou inteligentes.

Sim, eu pensei a mesma coisa que você.

Narrativamente, Idiocracy tem uma abordagem que, às vezes, soa caricata demais, destoando um pouco da mensagem tão crível que passou na abertura. Outro problema, é a forma como a trama se desenrola e torna conveniente o nível de burrice dos personagens, fazendo o espectador desacreditar da lógica daquele futuro, por algumas vezes.

Ainda assim, a obra traz uma abordagem muito pertinente e vale a pena ser vista por causa da construção desse futuro, com detalhes bastante curiosos e que já refletem no que vivemos hoje, apenas 18 anos após o lançamento do filme.

NOTA = 7/10

By T. Benedicto

Desde criança, é amante de grandes narrativas, tanto literárias quanto cinematográficas. Por isso, usou de todas as suas referências para criar sua própria ficção. Lançou o primeiro livro de sua saga de distopia em 2023, e busca consolidar sua carreira como escritor.

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