Quando os estúdios da FOX ainda existiam e seguiam a todo vapor, houve um último esforço (depois do fiasco da adaptação de Tim Burton lá nos anos 2000), de tentar emplacar uma nova era para a franquia Planeta dos Macacos.
Então veio a aposta final com o longa de 2011, dirigido por Rupert Wyatt e estrelado por James Franco que tinha o objetivo de começar do zero e mostrar como a humanidade acabou e os macacos chegaram a supremacia nesse universo, apostando na tecnologia aprimorada da época com captação de movimentos para fazer primatas mais realistas e expressivos. O resultado, é claro, foi excelente!
Tão excepcional que rendeu duas sequências aclamadíssimas, cada uma melhor que a outra, e encabeçadas pelo igualmente excelente diretor Matt Reeves.
Aí o resto já é história, a trilogia foi um sucesso e nos presenteou com a jornada daquele que se tornou referência entre os líderes do cinema, Cesar, imortalizado pelo ator Andy Serkis.
Pois bem, o arco do nosso herói se encerrou há 7 anos e eis que a 20th Century Studios, nas mãos da Disney agora, decide retornar para essa série, trazendo novos personagens, cenários e reviravoltas.
Antes de torcer o nariz, saiba que Planeta dos Macacos: O Reinado não tenta ser uma continuação direta do que foi estabelecido no final de A Guerra. O que já é um ponto excelente, pois não queremos cometer o fatídico erro de sequências intermináveis que só servem para desgastar uma franquia.
A todo momento, O Reinado tenta andar com as próprias pernas, se beneficiando apenas do set up de mundo deixado pelos filmes anteriores. Aqui, avançamos 300 anos na trama, e descobrimos que o planeta Terra está completamente tomado pela vida selvagem, os macacos estão mais evoluídos do que nunca e os humanos (os poucos que restaram) andam e se comportam como animais.
Neste cenário, conhecemos Noa (Owen Teague), um jovem macaco que vê sua vila ser tomada por outra tribo de primatas e parte em uma aventura perigosa para resgatar sua família.
Do ponto de vista narrativo, faz total sentido que esse longa exista, já que a trilogia anterior serviu apenas para conduzir o plot principal do ponto A ao B, explorando a ruína da humanidade e a simultânea ascensão dos macacos como espécie dominante. Mas de certa forma, nunca chegamos ao momento dos símios aprisionando humanos e de fato comandando o planeta, como é visto no clássico atemporal de 1968.
Então é agora o momento certo de começar uma nova saga (quem sabe mais uma trilogia?), que possa “flertar” com a obra original de Franklin J. Schaffner, mas também se garantindo como algo próprio, não se limitando a um simples remake.
A direção de Wes Ball aqui não é primorosa mas é competente, ele não inova mas faz o seu “dever de casa” completo. A influência do que Reeves ajudou a fundamentar no passado é óbvia, e isso é bom, afinal foram justamente os elementos de O Confronto e A Guerra que contribuíram para que essa adaptação em particular se diferenciasse das demais.
Porém, apesar de se distanciar dos outros filmes que o precedem, O Reinado faz diversas referências a franquia como um todo, inclusive ao personagem Cesar, que aqui se torna uma figura messiânica em um mundo tão distópico que seus ensinamentos, outrora tão sábios, agora são distorcidos pelos novos tiranos no poder.
Vale ressaltar que na verdade, a produção gosta de apontar vários subtextos que vão desde fanatismo religioso a segregação racial, mas nunca de fato chega a abordá-los, essa tarefa é deixada nas mãos dos fãs mais fervorosos (como eu) que vão tentar destrinchar todas as camadas desse roteiro (em alguns momentos preguiçoso).
Não que isso chegue a incomodar, mas poderia ter sido melhor trabalhado, já que essa nova franquia soube tratar de assuntos políticos de forma magistral. É que fica parecendo que, por causa dessa falta de nutrimento nos pequenos detalhes narrativos, acaba por simplificar demais alguns personagens importantes.
Como no caso do Proximus Cesar (Kevin Durand), um macaco impiedoso e lunático, alavancado como a principal ameaça do filme por escravizar outros da mesma espécie, com o objetivo de conquistar terras, tribos e criar um grande império símio.
Acho que dos poucos pontos negativos, esse vilão é o que mais incomoda, pois havia inúmeras chances de fazerem algo mais épico com ele, de apresentá-lo como um fanático que deturpa a fé dos macacos em Cesar para cometer atrocidades, ou que instaura o caos para se manter no controle.
Era uma promessa incrível mas que infelizmente ficou só no papel, pois apesar de ter presença, Proximus não passa de um vilão básico em busca de poder. Nem ao menos há uma cena de violência cometida por ele, é muita falação e pouca ação, até mesmo o gorila lacaio dele chega a ser mais cruel.
Em contrapartida, o protagonista Noa é fantástico, muito bem apresentado, com suas falhas e anseios sendo trabalhados enquanto ele embarca nessa missão de salvamento da qual sabemos que ele ainda não está preparado. Embora ele não termine o filme com seu arco concluído, com certeza é um herói que teria força suficiente para estrelar essa nova fase na franquia.
Noa se conecta conosco pois assim como ele, nós também estamos conhecendo esse novo mundo selvagem. Mas tal laço não é sentido com Mae (Freya Allan), a humana protagonista, que apesar de ter um propósito interessante na trama, nunca chega a fazer algo realmente memorável.
O Reinado não é um filme perfeito, mas é um bom capítulo de transição na saga, apesar de personagens fracos e algumas conveniências de roteiro, é digno de fazer parte desse intrigante universo cinematográfico.
Não aconselho que vá esperando algo que supere o seu antecessor, estamos lidando com um recomeço para Planeta dos Macacos, um prólogo totalmente inédito, uma semente que pode vir a gerar uma grande história.
Com um final aberto promissor, esse novo filme mantém o padrão de qualidade técnica, apresenta uma aventura intrigante, e pode proporcionar rumos interessantes para o futuro da franquia, basta a produção ter coragem e vontade para fazer isso.
Geek, colecionador de board games e cinéfilo apaixonado pelo mundo da comunicação. Gosta de escrever fanfics nas horas vagas, ler livros de terror e ficção científica, curtindo ao som de Gorillaz. Estiloso, sempre buscando looks inspiradores, gosta de praticar esportes, promover festas e estar rodeado pelos amigos.
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