A agradável mistura de comédia adolescente e Clube da Luta
Bottoms (Clube da Luta para Meninas – no Brasil), estrelado por Rachel Sennott e Ayo Edebiri e dirigido por Emma Seligman, chega diretamente para o streaming e está disponível na Amazon Prime Video. O longa teve bastante repercussão nos Estados Unidos quando estreou no festival SXSW e desde então têm gerado bastante hype ao redor do mundo.
Bottoms conta a história de duas alunas não populares do último ano do ensino médio, que criam um clube da luta para tentar impressionar e conquistar líderes de torcida.
A experiência de assistir Bottoms é bastante familiar em certos momentos, e diferente em outros. A junção de temáticas comuns em comédias adolescentes como a escola, professores, clubes, entre outras coisas, está aqui. Mas, acredito que a forma encontrada por Seligman para subverter o subgênero é bastante excêntrica e caprichosa. Rejeitar o verossímil e abraçar o exagero é realmente brilhante e uma maneira profunda de trabalhar e explorar os temas e o gênero do filme como um todo.
Dito isso, Bottoms é um filme de posicionamento. Portanto, convida o espectador a pensar e encarar a realidade que as personagens estão inseridas. Nesse sentido, revela-se um longa mais rico e bem-sucedido que outros que o influenciaram. Além de que, isso ocorre devido a um tratamento especial por parte da diretora, aos temas abordados e a maneira estilizada, violenta, satírica e hilária de contar essa história.
O cenário surrealista que a diretora impõe aqui é, verdadeiramente, maravilhoso. A noção de que, o universo é a escola e que a realidade é, de certa forma, alterada, e tudo que importa para as personagens é serem vistas e reconhecidas pelo que são, é muito bem trabalhada. No entanto, impõe certos limites na trama, de modo que o amadurecimento e a juventude fiquem em segundo plano. Assim, é visível a mensagem que a realizadora quer transmitir e que o equilíbrio encontrado ela é ainda satisfatório.
Uma das comédias mais aguardadas do ano
Rachel Sennott transita muito bem entre o drama e a comédia e faz uma personagem caótica e de algum modo, perversa. Contudo, Ayo Edebiri está ótima também e tem uma personagem mais bondosa e de certa forma, até mesmo, mais próxima da realidade. O elenco de apoio faz um ótimo trabalho e a meu ver, tem espaço para brilhar. Dessa forma, Havana Rose Liu e Kaia Gerber, estabelecem o senso de importância do espectador para com suas personagens e têm forte posicionamento na trama.
Emma Seligman, em parceria com Rachel Sennott, esbanja criatividade no roteiro. Piadas, ironias e opiniões, é claro, são inseridas de maneira muito natural no texto. Os diálogos são sempre engraçados e, frequentemente, reflexivos. Isso se percebe, por exemplo, nas interações entre as alunas e o seu professor, interpretado por Marshawn Lynch, que está simplesmente hilário em seu papel em Bottoms.
Por fim, ressalto que, a estética da cena final é simplesmente incrível. O recurso da câmera lenta para ressaltar violência, salientar o seu posicionamento e concluir o desenvolvimento de todas aquelas personagens. Dessa forma, comprova-se que, o uso do surrealismo e distanciamento da verossimilhança, de certa forma, favorece a criação de uma ópera, recheada de comédia visual, ferocidade e “emponderamento”.
Devido a química maravilhosa entre o elenco e a sensacional estilização durante todo o longa-metragem. Uma vez que, a escolha de canções é bastante interessante para o filme e que resulta em uma ótima cena, especificamente, que serve como um ponto chave para o início do ato final. O cenário mais certo para Bottoms é que ele se torne um clássico cult adolescente, em que as pessoas utilizarão as vestimentas das personagens em festas fantasias e assistirão ao filme diversas vezes.
Bottoms é supreendente. É praticamente impossível pensar em um resultado como esse, partindo apenas de seu pôster e sinopse. O filme exibe cenas sensacionais e perturbadoras, que abraçam o exagero conseguindo corromper, de maneira estranhamente positiva, convenções dos filmes adolescentes. Um longa-metragem que transita por temas dramáticos e se torna agradável por ser verdadeiro. E, felizmente, ao final, evita o maniqueísmo que poderia ter sido inserido.
NOTA: 9/10
Olá, sou Luiz Henrique, faço comentários sobre cinema e compartilho aqui minhas experiências com filmes que vi.